domingo, 14 de dezembro de 2008

Quando os alquimistas chagaram



Tem aquele tipo de estória que você gostaria que acontecesse com outra pessoa. É mais fácil contar e você não se expõe tanto quanto gostaria. Por isso, imagine alguém que não seja eu, nem você, mas alguém como se fosse você falando para você mesmo, ou, eu mesmo. 

Você chega sexta-feira de madrugada na sua casa, depois de ter infringido algumas dezenas de Leis, e repara que alguma coisa está esquisito É, você pensa, infringir leis de convívio social ainda vai, agora leis físicas, aí tem coisa estranha. 

Entra pelo portão, mais ou menos como você sai pela saída, e observa a luz da garagem piscando. Claro que só há essa certeza depois de pelo menos algumas observações e um estímulo fora do comum para se comprovar racionalmente o fato. Afinal depois de tantas leis...

Tudo bem, luzes piscam, sub-woofer fazem graves, eletricidade transformar-se em energia térmica e o som se propaga por ondas. Mas na sua casa geralmente isso funciona apenas quando você quer. Nessa noite, tudo estava possuído: A luz piscava, o sub-woofer fazia um barulho alucinante, e tudo estava cheirando a cobre e silício derretido. 

Mas você que já está um pouco mais sensível as leis naturais, não entende muito bem o que está acontecendo. Olha tudo aquilo, passa pelo microondas que parece querer fazer contato, e vai dormir. 

Noutro dia acorda achando ter sonhado, mas o cheiro não desapareceu. Acorda sofrendo com as consequências das leis, descobre sem enxergar direito que é a rede elétrica que está toda em pane. 

Tiozinho de reparo técnico é sempre uma figura interessante, mas depois de assistir tantos filmes de ficção científica e de conspirações, você passa a desconfiar deles. Afinal, como confiar em tiozinhos, geralmente de apelidos que só fazem sentido se expressados oralmente, que armados com suas caixas de ferramentas estranhas invadem os forros de nossas casas para supostamente resolverem problemas técnicos!?

Se você já assistiu MIB e  alguma vez já fez contato com esses seres do mofo e da poeira acumulados sobre nossas cabeças. Fique esperto, eles estão chegando.

É assim, sem luz, sem televisão, sem internet, sem água gelada, quase um dia inteiro eles passaram vasculhando todos os buracos da casa atrás do "problema". Imagine você, depois daquela noite pesada, mal durmida, e o primeiro contato do dia com esses seres e seus cigarros de lado, pensando e fazendo piadas quase sem graça. 

Eles invadem sua casa, abrem o alçapão carregando seus voltimetros e procuram aonde está o retorno do neutro que supostamente deveria estar ligado a fase que está sem o terra que provavelmente está causando o retorno causando a variação da tensão.... Até que chega o quarto ou quinto "eletricista", na maior parte das vezes um humano, que graças a uma ajuda divina ou seja lá o que for resolve o problema. Dessa vez, num ato de desespero, olha para os céu e descobre o problema: o cabo do poste está arrebentado.

Nisso, depois de horas supostamente procurando o problema e instalando vai saber o que no forro de nossas casas eles se despedem em seus carros da década de 80 e desaparecem de nossas vidas. 

Ai é  quando chega o Estado, ou sei lá 50% dele, para reconectar a casa com a rede que traz a luz, a água gelada, o telefone sem fio que não funciona sem estar ligado na tomada, a internet, a televisão a cabo e, claro, a panela elétrica de arroz.

Eles, terceirizados, funcionários de empresa privada, prestam serviço público para uma empresa de capital  misto, podem ser chamados ligando para algum robô 0800+número-de-protocolo para em alguns minutos estarem na porta da sua casa e consertar o suposto cabo de aço que em vista alguma forma maior simplesmente arrebentou.

São estranhos, apesar dos palms conectados por satélite que permitem saber exatamente o local do poste e de todas as informações sobre o cliente, ainda sim mantêm uma certa característica humana. Tocam em suas picapes, S-10 mesmo, música alta enquanto sobem alto nos postes que transformam toda nossa vida em uma rede que somente seres estranhos são capazes de dominar, ou não. É complexo como uma rede. 

Só sei que tenho medo de máquinas e dos seres por detrás delas. Aliás, eles estavam ouvindo Bob Marley, Gun's and Roses, Maria Betânia e Casa das Máquinas, será? Não sei, eles chegaram e estarão visitando sua residência em breve.

 


    


    


 

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