quinta-feira, 5 de junho de 2008

POTOCAS, PETAS E LOROTAS




Não é preciso divagar muito para perceber o estado em que a sociedade se encontra. Basta observar que de repente ficou normal e até mesmo rotineiro encontrarmos criancinhas mortas, jovens estranguladas, indigentes viciados em crack, playboys inconseqüentes dirigindo seus brinquedinhos e sem falar na política, que não sei como acaba na revista Playboy. No entanto, o que faz falta mesmo é a boa e velha potoca. Quando foi a última vez que você se deparou com uma potoca, daquelas bem cabeludas mesmo, que ninguém é capaz de acreditar? É, estamos em crise. Aquela peta, bem feita, trabalhada, rapidinha ou demorada, está cada vez mais difícil de ser encontrada.
Ainda é possível achar alguma lorota nos bares da UEM exibindo-se em meio a cervejas e batatas fritas. Mas o que me faz escrever esse texto é a abordagem que recebi esses dias voltando para casa. A pessoa surgiu do nada e já veio me abordando. “Por favor, você não teria 1,00 R$, 0,50 R$ para me dar não? Eu vou ser sincero com você, não é para comprar comida nem nada, mas é para inteirar meu galãozinho de pinga mesmo...”
Foi triste ouvir isso, onde é que foi parar aquela estória triste de vida, do lar abandonado, dos dias sem comer ou mesmo do pedir para não roubar? As mentiras do dia-dia não existem mais. A sociedade mudou o que vale agora é a transparência. Faça o que quiser, mas não minta.
Recorrendo ao AURÉLIO, procurava algum sinônimo que pudesse salvar a mentira. Contudo, encontrei: 1. Ato de mentir; Impostura, fraude; peta, potoca, lorota. 2. Engano dos sentidos ou do espírito; erro, ilusão. O indivíduo e sua sinceridade do SÉC XXI, praticamente destruiu aquilo que de melhor os portugueses deixaram de herança. Antes o indivíduo contasse uma mentira. A ilusão, o engano dos sentidos e a beleza da língua portuguesa seriam preservados e todos sairiam felizes.
Agora, a verdade, tem o compromisso com o real, o exato. Ela afirma que o ser humano que está pedindo algumas moedas não está com fome nem quer saber de um prato de comida, ele apenas quer algum dinheiro para comprar uma garrafa de pinga e ficar bêbado. A verdade não é ilusória, porque você sabe que a pessoa que lhe pede uns trocados não está nessa situação simplesmente pelo fato de ser um vagabundo qualquer, ele é conseqüência da mesma sociedade que mata criancinhas e faz discursos hipócritas sobre um falso moralismo.
Potocas sempre serão encontradas, é claro. Porém, a verdade é cruel e difícil de ser enfrentada. Melhor seria se pudéssemos ficar na ilusão de espírito, esperando que uma força suprema resolva todos os problemas da sociedade, e há quem acredite. Ou ainda, que ela seja desmascarada e nos percebamos que a verdade não passava era de uma peta muito bem feita.

Um comentário:

jebar437 disse...

Tá fazendo o que por aí?